segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Relembrando o livro "O Campo da História"





O Campo da História”, publicado pela primeira vez em 2004, procura traçar um panorama sobre o que é a História hoje, e sobre suas várias modalidades (História Cultural, História Política, Micro-História, História das Mentalidades, e tantas outras). Procura-se discutir cada uma destas modalidades falando sobre suas fontes, conceitos, temas mais recorrentes, e dando exemplos de historiadores brasileiros e internacionais.

As referências são as seguintes:

Autor: José D'Assunção Barros
Título: O Campo da História
Editora: Editora Vozes
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Posteriormente, o livro foi traduzido para o Espanhol. No Brasil, a edição em português chega em 2011 à oitava edição, em seis anos da sua primeira publicação.


Uma das teses centrais do livro é a de que os diveros trabalhos e pesquisas historiográficas não se localizam nunca inteiramente dentro de uma única modalidade historiográfica (por exemplo, a História Econômica), mas sim em uma conexão estabelecida entre determinadas modalidades (por exemplo, uma determinada pesquisa pode estar constituída em conexão entre História Econômica, História Serial e História do Trabalho, entre outras modalidades).

Por exemplo, uma pesquisa sobre a "Música de Protesto no período da Ditadura Militar do Brasil", que esteja trabalhando com a Metodologia de História Oral, pode ter sua identidade reconhecida em uma conexão entre a História Política, a História Cultural, a História da Música, e a História Oral.

Outra tese sustentada pelo livro é a de que a maior parte das modalidades historiográficas contemporâneas surgiu a partir de três critérios distintos:

1 - As "dimensões" referem-se a modalidades que trazem a primeiro plano instâncias mais amplas (e incontornáveis) do viver humano e social. Por exemplo, a História Política, a História Cultural, a História Econômica, a História Demográfica, a História das Mentalidades. Cada uma destas dimensões refere-se a uma questão fundamental, na sua forma mais irredutível: o Poder (História Política), a Cultura (História Cultural), a Economia (a História Econômica), os modos de pensar e de sentir (a História das Mentalidades), a população (a História Demográfica). Estes são apenas alguns exemplos das modalidades historiográficas que se referem a dimensões.

2 - As "abordagens" referem-se a modalidades que remetem a "modos de fazer a história". Este tipo de modalidade historiográfica pode se referir a uma espécie de fonte, a uma maneira de trabalhar com determinadas fontes, a um modo de recortar o seu objeto ou de estabelecer o seu espaço de análise e observação. São modalidades historiográficas definidas pelas "abordagens" a 'História Oral' (que trabalha com um certo tipo de fontes - os depoimentos orais - e uma determinada metodologia), a 'História Serial' (que trabalha com fontes homogêneas constituídas em série e com uma abordagem que busca permanências, variações, padrões, mudanças de padrão na série), ou ainda a 'Micro-História', que trabalha com uma escala reduzida de observação, e que procura enxergar através do micro-recorte (uma trajetória de vida, um circuito familiar, uma vizinhança, um ambiente fabril, uma prática social) algo relacionado a uma questão social de maior alcance. Estes são apenas três exemplos de modalidades historiográficas geradas pelo critério "abordagens".

3 - Os domínios temáticos, que na verdade são infinitos. Referem-se a grandes ou pequenos recortes de temas, e geralmente tem uma amplitude que pode ser incluída dentro de uma "dimensão" (ou se situar entre elas). Mesmo quando um domínio temático é bastante amplo, não podemos dizer que ele é uma "dimensão" ou uma instância incontornável do viver humano, como ocorre com as modalidades referentes ao critério das dimensões. Por exemplo, a "História do Direito" e a "História das Religiões" são grandes domínios, bastante antigos e já clássicos. Embora um grande número de sociedades possuam "Direito" e "Religião", podemos perfeitamente imaginar sociedades que não as tenham. Na pré-história, por exemplo, não havia algo como o "Direito". A "História da Música", por exemplo, é um "domínio temático". Embora a maior parte das sociedades que conhecemos apresente alguma forma de música, é perfeitamente imaginável uma sociedade que não tenha Música. Além disso, a "Música", embora constitua um domínio amplo, pode ser perfeitamente incluída em uma 'dimensão' como a da Cultura.

Os domínios temáticos são infinitos, e podem ir dos grandes domínios aos domínios menores, mais específicos, que até cabem uns nos outros. Por exemplo, posso pensar uma "História do vestuário", posso pensar uma "História da Censura".

A fragmentação do mercado editorial em alguns domínios temáticos mais exóticos - por exemplo, a "História do Canibalismo" ou a "História dos pequenos objetos úteis" - tem merecido críticas de alguns historiadores que alertam para a perda de sentido de totalidade, em alguns casos. Foi o caso, por exemplo, da crítica encaminhada pelo célebre livro "A História em Migalhas" (1987), de François Dosse, que critica a tendência à fragmentação da história levada a cabo por certos setores da Nova História Francesa.

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Estas são as teses fundamentais desenvolvidas no livro "O Campo da História" (Petrópolis: Vozes, 2011, 8a edição).


Uma Resenha sobre o livro, elaborada pela professora Maria Abadia Cardoso, da Universidade Federal de Uberlândia, pode ser encontrada na Revista Fênix (UFU): http://ning.it/fNBzZF

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